quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Com que roupa...

Sim, eu sei que eu não venho aqui com a frequência que deveria...

Hoje eu tive uma discussão com a minha esposa.

O assunto foi se a roupa utilizada pelas pessoas define a moral da mesma.

Ela acredita que se a sociedade diz que tal roupa está associada a um comportamento imoral, então as pessoas que utilizam daquela roupa concordam com essa associação e assumem que tem essa imoralidade. Ao que me parece, por todo o tempo de convívio que possuímos, a minha esposa se refere, única e exclusivamente, a mulheres que usam roupas provocantes e que se insinuam para qualquer homem, solteiro ou compromissado. Essa insinuação pode ser para se envolver fisicamente, estragar o relacionamento e ou obter favores ou benefícios.

Da minha parte eu acredito que a roupa não determina o caráter de nenhuma pessoa, homem ou mulher. Não acredito que roupas decotadas impliquem em "piriguetes" ou roupas de "mano" impliquem em criminosos. Como também não acredito  que roupas recatadas impliquem em moral inabalável, ou ternos e gravatas determinem boa índole e comportamento exemplar.

Particularmente no caso da mulheres, o que me preocupa é que o julgamento da moral pela roupa e não somente pelo comportamento é uma das justificativas para comportamentos humilhantes em locais públicos (gostosa!), preconceitos (é uma biscate mesmo) ou, o pior de todos, o estupro.

O vídeo "It´s your fault" (https://www.youtube.com/watch?v=PdPefSCx-uc) apresenta um pouco dessa justificativa sobre roupas, mas, rapidamente, mostra que a roupa não é o determinante para o estupro.

A "Marcha das Vadias" teve seu início após o policial canadense Michael Sanguinetti, que foi dar uma palestra sobre defesa pessoal na Universidade de Toronto que estava com um aumento de casos de estupro, afirmar "I´ve been told I´m not supposed to say this - however, women should avoid dressing like sluts in order not to be victimised" (Eu fui avisado que era melhor não dizer isso - talvez, mulheres deveriam evitar se vestir como putas para evitar se tornarem vítimas - tradução livre). Aproveitando, o polícial pediu desculpas pelo seu comentário (http://www.digitaljournal.com/article/303821).

Acredito que um dos problemas que a sociedade tem é a visão sobre o sexo e a função do homem e da mulher nesta atividade. O sexo é imoral e os homens pode exercer e exibir sua sexualidade enquanto as mulheres devem atender os desejos dos homens preferencialmente de maneira submissa. Claro que isso já não é tão extremista, mas ainda é a base do pensamento da sociedade sobre o assunto. Por isso que mulheres que usam roupas mais sensuais são vistas como lascívias e imorais, enquanto aos homens é permitido andar sem camisa e com bermudas justas sem serem considerados indecentes, no máximo inadequados ao ambiente ou evento.

Como já disse, se o problema fosse somente olhar uma mulher com roupas sensuais e considerá-la imoral, isso já seria ruim, mas não tanto como o estupro, afinal, alguns homens perturbados (e, na minha opinião, sem capacidade de conviver em sociedade) defendem que as mulheres que usam roupas sensuais querem ser estupradas.

Isso tem que acabar! Devemos ensinar aos nossos filhos e filhas, amigos e cônjuges que a roupa não implica moral e que o seu desejo sexual não pode ser exercido a força em outra pessoa e que sexo é uma atividade natural e que não existe diferenças de valores entre homens e mulheres nessa atividade. Não é errado ter e querer prazer para ninguém. Quem sabe se começarmos essa mudança agora, nossos  netos ou bisnetos tenham uma vida sexual mais saudável.

Outro ponto que surgiu, ainda que só de passagem, foi a prostituição. Eu acredito que a prostituição é um serviço como qualquer outro, afinal cada trabalhador se aluga de alguma maneira, alguns o intelecto e outros o físico. O que eu não concordo com a prostituição é quando ela é forçada, quando a pessoa não tem uma alternativa por falta de oportunidades. Além disso, como a prostituição também está ligada com a visão da sociedade sobre o sexo, o serviço acaba ligado a riscos além dos profissionais, o que acaba tornando a vida dessas profissionais bem difícil. Eu preferiria que a prostituição fosse exercida por pessoas que tem vocação, tal como Lola Benvenutti (http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2013/04/faco-porque-gosto-revela-garota-de-programa-recem-graduada-em-letras.html).

Esta é a minha opinião

Um comentário:

Unknown disse...

Concordo com tudo. Parabéns pelo texto!